Bom seria que tudo fosse
resolvido se escrevendo. Mandando cartas, email, torpedos ou qualquer outro
meio de comunicação escrita. Escrevendo, as palavras saem com mais verdade, com
mais emoção. Escrevendo a mente se abre mais, a vergonha fica meio de lado. Não
sei falar tudo que sinto oralmente, mas escrevendo as palavras chegaram como
onda, sem pressa, sem agonia que as palavras faladas nos causam. Escrevendo não
choro na frente dos outros, minha tristeza fica só pra mim, meu amor fica nas
palavras escritas e quem as ler saberá o que estou falando.
Falar de saudade, de amor não
correspondido, de paixões frustradas, faz mais e mais palavras surgiram e o
texto ficando cada vez maior.
Tristeza traz inspiração,
falar de desamor sempre me foi mais inspirador. Mas mesmo assim não sei muito
escrever sobre o desamor, mesmo ele fazendo parte da minha vida constantemente.
Sabe? As vezes fico
imaginando como é amar e ser amado, como é beijar alguém que realmente
gostamos, transar com este alguém e dizer que fez amor. Não ter nojinho de nada
na pessoa amada, gostar até do bafinho matinal.
Será que um dia viverei tudo
isso que as outras pessoas vivem no amor.
Quero viver tudo isso.
Sofrimento, traição, mas também neste intervalo de tanta dor, quero viver as
brincadeiras, as transas, os filmes e músicas juntos, fazer planos para um
futuro que pode nunca chegar.
E mais uma vez transar até um
dos dois dizer que não aguenta mais.
Ao mesmo tempo em que escrevo
todos estes desejos e sonhos ( é sonho tá) fico pensando: Talvez fosse melhor
nunca mais sentir nada disto por ninguém, pois só trago sofrimento nestes meus
poucos vividos 35 anos. Já me sinto velho pra tudo que não vivi, não sei se
saberia viver algo que todos já viveram, seria como... Não sei como descrever o
que nunca vivi.
Tento descobrir na terapia o
porque de tanta rejeição. Já descobrir que a minha infância não foi das
mulheres para ter formado um adulto autoconfiante. E tem muitas coisas que me
foram ditas e internalizei como verdade e
que na verdade não é verdade, que preciso desconstruir isso tudo de
dentro de mim. Sei que não é fácil, não sei se dará tempo, me sinto tão sem
tempo para algumas coisas, vivo numa contagem regressiva, como se fosse uma
bomba relógio, presente a explodir. Num acidente, num suicídio, numa doença ou
qualquer outra coisa que me tire esta vida mesmo eu estando vivo.
Falo tanto de amor, ou da
falta dele. Que morrer de amor ou por amor, seria algo que realmente valeria a
pena ter vivido. Não sei se tivesse morrido por todos os caras dos quais eu já
me apaixonei teria valido a pena. Não estaria vivo pra sofrer novamente tudo
que sofri. Claro que nem tudo foi ou é sofrimento; tem e teve momentos bons,
mas tudo como se eu fosse (ou realmente sou) uma alternativa, vivesse de
migalhas. Migalhas de carinho, de atenção e até migalhas das minhas poucas
vivências sexual.